terça-feira, 28 de abril de 2009

Mesmo fútil a vaidade não é inútil


Para quê livrar-me da vaidade que apavora o que me é a priori às palavras, esse postiço essencial na escrita o que permite, se quiser, não seguir as regras de ninguém senão as que não são o eco de ninguém, que é para isso que foi inventada?
Se não sou livre aqui, a culpa é tua, porque me estás a ler porque te estás a impor. A culpa é tua, a culpa é tua!
Mas a escrita sem vaidade fica-se-me vazia e eu sem vontade de procurar o porquê de a vaidade querer aplauso. Logo, fico com vontade mentirosa de dormir. Já está a aparecer o sono. Boa noite. ´É assim que acaba. Acabou.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

O Homem acredita ser comunicável



A comunicação é a capacidade de entendimento através da troca de informação involuntária, em que quem se expressa fá-lo de forma involuntária, pois não está preparado nem tem o objectivo, a intenção de se expressar da forma que o fez. Quanto ao receptor, recebe a informação através dos órgãos sensoriais que são despertos inconscientemente, e não através dos que são facilmente manipulados pela vontade.
A esta capacidade de entendimento atribuo a palavra comunicação.

Esta pode ou não ser correspondida:
Enquanto transmissores, podemos ou não ter a capacidade de enviar estímulos que consigam penetrar no receptor. Se estamos a faze-lo de modo voluntário sabemos que estamos a ser comunicáveis, logo deixamos de o ser, tendo em conta sempre que a verdadeira comunicação é a transmissão daquilo que efectivamente somos e não a transmissão daquilo que somos efectivamente.
Enquanto receptores, podemos ou não conseguir perceber o outro ou a situação que decorre na sua verdadeira essência, mas, mesmo que o tenhamos sentido, nunca saberemos se o entendemos, porque não podemos confiar na relação reciproca entre o que sentimos e o que o outro sente – a concordância entre ambos depende da verdade em si de cada um, que deve ocorrer nos mesmos milésimos de segundos.

Dois sujeitos só estão em plena sintonia quando se conhecem enquanto sentimentos, sem que se procurem conhecer.

Mais fazia Nabucodonosor dormindo, que acordado



Faço mais a dormir que acordada.

Acordada governo quimericamente o corpo rotineiro que me domina.
A dormir, governo o liberal do meu espírito que também me domina, mas que, pelo contrário, não me importo.


domingo, 26 de abril de 2009


Nunca desapontei ninguém, porque nunca ninguém esperou nada de mim senão eu.


-Não me ames.
-Porquê?
-Porque te amo.

Ser vs Saber


O belo que se tem começa a apagar-se nesse tê-lo. A beleza é do imaginário e a imaginação é uma forma de se possuir o que não se possui. (...)Tudo cansa excepto o cansaço, que é o limite desse tudo. Não podemos ser glutões de seja o que for, porque o seu fim está no enjoo ou no vómito que se segue.

Vergílio Ferreira

Quando se é belo, não se pode ser belo se não houver ninguém a saber que aquele o está a ser ou quando, por outro lado, toma consciência que o é.

Quando a primeira acontece, estúpido é aquele que belo é, porque não sabe que o é. Mas triste é aquele que o contempla, porque, apesar da virtude de ter a noção de belo, ele ama.

Quando a ultima acontece, quando se toma consciência do que se está a ser, então deixa-se de o ser.
Preferia não saber o que faço, fazendo-o bem.
Invejo as plantas, que vivem simplesmente sem grande alvoroço, sem grande rebuliço, que vivem simplesmente, sem pressa de serem. Tão ingénuas, tão estúpidas, tão belas.
O que importa não se saber que se é belo? Se soubessem, não o seriam.



Livre livre sou eu


Descobri que não sou livre porque quero mas porque me deixam ser Logo não quero porque não posso querer para não deixar de ser [o que quero] e como sou livre e faço o que não quero escrevo livremente sem querer saber o que interpretam os que querem ler Livre livre sou eu que fora do sitio sem lugar nem tempo que acolhe o que penso não sou nada senão os outros e pensas tu que não e não te dão razão porque querem que sejas livre

Gosto de me ver




Gosto de me ver, mesmo não tendo prazer nisso.
Gosto de desprevenidamente me apreciar, porque me amo sem saber que sou eu a pessoa que amo. Passo a ser o outro que não existe, o melhor observador, o maior admirador, o mais apaixonado, mas só até ter consciência de que sou eu que observo, que amo.

A consciência não bate à porta, como as percepções que a antecedem; mas, ao contrário, não é bem vinda. E é gorda, não permite lugar para mais nada senão para a sua própria função: pensar.

sábado, 25 de abril de 2009

Tic Tac Tic Bum



O tempo é aquilo que me cria ansiedade, que me faz deixar de ser quem sou e goza com o que não fui. O tempo é coisa minha, criada na mais ingénua fase da minha vida.
Suicida, porque já consciente, aperto o meu pulso ao relógio e prossigo.
Tento enganar quem?

De passagem




Este vento, que entra de fininho a deslizar-se-me na pele, pelo fundo das costas, e sai, arranhando suavemente o pescoço, toca e provoca sem se deixar apanhar.
Sem som, sem cheiro, sem corpo, vai-se embora, despede-se na camisa e deixa-me novamente sozinha, tonta, à espera da próxima vez que a brisa se pavoneie nas minhas costas.

terça-feira, 21 de abril de 2009

O velho

No fim, ganho consciência do quão velho estou e só me resta uma intensa mistura entre saudade, tristeza e perda, que me permite observar hoje o que julguei não ser prioritário ontem.
Resta-me viver, apenas, cada minuto de forma abstracta e tentando transmitir o que sei a quem tenha ouvidos com melhor qualidade que os meus.
Estou um velho, amargurado com o que fiz da vida e cansado de permanecer com os olhos (só agora) conscientes.
Estou a cegar de uma vista, mas nem assim ofusco daquela que, mesmo na escuridão, me alumia os fantasmas do meu passado supostamente apagado pela arrogância.


Os músculos estão fracos, os ossos esburacados, os olhos cansados. Mas o meu castigo é a teimosia da nova lucidez do cérebro e, pior, do meu coração em não descansar.





segunda-feira, 20 de abril de 2009

Red line

Tem de haver um equilíbrio.
A curiosidade não deve ser ilimitada.
O envolvimento, a sensibilidade devem ser travados.
É preciso conhecer o limite, Avançando.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Interpretação vs Liberdade



Se o mundo é matéria e nós o interpretamos, porque raio existe ética?
A resposta está na propriedade privada. O Homem pensa, julgando possuir as ideias, que são dadas como adquiridas - encontradas ou criadas - mas exclusivamente suas. Assim, vai impo-las aos outros, de forma arbitrária, em prol da sua dominância sobre o outro.
O homem precisa desse sentimento de superioridade. É através da superioridade que procura a tranquilidade. Mas trata-se da tranquilidade superficial, a contorno do medo, a santa ignorância que lhe dá o grande poder de não ver o que não quer. E, uma vez que deposita no outro a análise, a crítica (maioritariamente negativa) de si de forma não consciente, o Outro torna-se no espelho do seu próprio Eu, como resultado do medo de confrontar-se.

O culto da ignorância faz com que sejamos os outros toda a vida. O culto do ócio mental faz com que mecanicamente nos tornemos meros números; coisas que nascem, obedecem e morrem. Não que tenhamos poder de ir contra as leis do Universo (apesar de ser esta a sensação que o ser humano procura e finge ter, ignorando o seu próprio medo e agindo, ao mesmo tempo contra ele), mas temos o potencial suficiente para podermos ser.

Para compreender a existência humana temos de compreender primeiro o a priori - a Mente - e só depois ouvir, mas de forma crítica, o que nos rodeia.

Assim, a acção é correcta, obedece à ética, dependendo de quem a pratica.
Não existe ética nem moral sem a existência do Homem, do pensamento.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Ouve-te


Nunca a alheia vontade, inda que grata,
Cumpras por própria. Manda no que fazes,
Nem de ti mesmo servo.
Ninguém te dá quem és. Nada te mude.
Teu intimo destino involuntário
Cumpre alto
.
Sê teu filho.


Ricardo Reis, Poesia


quinta-feira, 9 de abril de 2009

Eu possuo-o porque lhe dou utilidade



- Eu, se possuo um lenço, posso colocá-lo em torno do pescoço e levá-lo comigo. Se possuo uma flor, posso colher a flor e levá-la comigo. Mas tu não podes colher as estrelas.
- Não. Mas eu posso colocá-las no banco.
- Que quer dizer isto?
- Isso quer dizer que eu escrevo num papelzinho o número das minhas estrelas. Depois tranco o papel à chave numa gaveta.
- Só isto?
- E basta...
É divertido, pensou o principezinho. É bastante poético. Mas não é muito sério.
O principezinho tinha, sobre as coisas sérias, ideias muito diversas das ideias das pessoas grandes.
- Eu, disse ele ainda, possuo uma flor que rego todos os dias. Possuo três vulcões que revolvo toda semana. Porque revolvo também o que está extinto. A gente nunca sabe. É útil para os meus vulcões, é útil para a minha flor que eu os possua. Mas tu não és útil às estrelas...
O Principezinho, Saint-Exupéry

Eu possuo porque é útil para as coisas que possuo que as possua. Se sou possuída por alguém é porque me é útil que seja possuída; Se possuo algo ou alguém é porque lhe é útil que a/o possua.
Como é que eu posso possuir algo se não lhe é útil que o possua? Se assim é, não o possuo. Não basta eu querer possuir.
Tudo o que adquiro ou vou adquirir vai precisar de cuidados, de manutenção, de utilização. Senão, deixa de ser meu, ou seja, ou passa a ser de outro alguém ou morre. Se for um ser não vivo morre temporariamente até que outro ser o possua como se fosse novo, tendo um renascer. Mas os seres vivos não têm renascer, não voltam a pertencer quando deixam de o fazer; são irremediáveis.
Quando acho um tesouro primeiro, ele não é meu, apesar de me ensinarem o contrário. O tesouro é de quem lhe é útil. É o tesouro que decide ser ou não eu o seu dono, eu não tenho escolha sobre a posse de nada. Se assim é, poderia inferir que é o tesouro que me possui e não eu que possuo o tesouro, certo? Não. A questão é, por um lado, quem controla/decide se é possuído e, por outro lado, quem é controlado e possui. Contudo, as estrelas não escolhem quem as possui, quem ou o quê que lhes é útil. Serão elas autónomas e independentes de tudo; não precisam de nada/ninguém e não pertencem a nada/ninguém? Não, senão não existiriam. Ou existirão elas apenas para possuírem? É possível existir só com uma das duas funções? Se assim for, eu sou possuída pelas estrelas e elas são-me úteis porque sim.
E quanto aos meus pensamentos e ideias, são eles possuidores, como as estrelas, ou possuídos por mim? Ou seja, possuem-me porque me são úteis ou possuo-os porque lhes sou útil? Ambas. Se não houvesse a primeira opção, eu não seria um ser humano; se não houvesse a segunda, não haveria evolução. Tudo depende de tudo, tudo está complexamente interligado, e tudo faz sentido, segundo as leis do universo.
Assim, a questão é “Eu possuo, porque dou utilidade ao objecto em minha posse” e não “Eu dou utilidade ao objecto, porque possuo”. Isto, porque eu, enquanto proprietária, não posso querer possuir sem pensar em dar manutenção, utilidade ao que possuo; sem pensar em amar o que possuo.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

O mundo

O mundo, ó alma cansada,
É uma porta a b e r t a, por onde
Se vê, logo defronte,
Uma outra porta, fechada.

Fernando Pessoa, Poesia

terça-feira, 7 de abril de 2009

Insónia

A insónia é o castigo dos cobardes.
Ser cobarde é ansiar o próximo adormecer.
Ser ousado é ansiar o próximo acordar.
Ser ninguém é não ansiar. (Não desejar é conhecer)
Viver dias e noites é o castigo de ninguém.
Os castigos do ousado prometem continuamente o seu bem-estar.

Estúpidos animais estúpidos


Os animais, felizes inconscientes
Que para morrer vivem,
São invejados pelos (im)pacientes,
Infelizes, que mortos sobrevivem.





Tu, que subestimas


Tu, que subestimas, fazes bem
Pensar coisa nenhuma de todas as coisas.
Nem eu sou capaz de o fazer
Nem tu pensas essas coisas.





Sejam rebeldes


Sejam rebeldes,
Pensamentos v ã o s, que
Para nada servem
Senão para serem prisioneiros de mim mesma.