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terça-feira, 8 de junho de 2010

Consegues ler-me sem que diga uma palavra?

Esfrego a cara, estalo o pescoço, acendo um cigarro.
Consegues sentir a ansiedade? Consegues ler-me sem que diga uma palavra?
O óbvio torna-se não óbvio aos olhos dos outros.
E eu, ou tu, ou qualquer pessoa que viva em sociedade, torna-se invisível.
E cada um dá a cor que quer a cada um - sem perceber que o outro é, afinal, (tal como ele) transparente.
A consequência? Chama-se privacidade ou isolamento... Ou os ambos simultaneamente, permitindo fazer da carapaça que os outros nos constroem a nossa casa. E, assim, essa mesma carapaça é construída em conjunto, com as influências do mundo exterior e do interior.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

O que não existe existe em nós

O Amor é a verdade que desaparece quando a verdade aparece.

domingo, 28 de junho de 2009

Cala-me

Se disser coisas bonitas e ficar feia
É porque penso indecente.
A língua mente.
E o nariz é de madeira.

Quando eu contrario, não vás
Por onde eu verbalizo.
Atrás do que fantasio,
Vê o que escondo, que se não fica atrás – é isso que é bonito.

Só vejo a cor da minha caneta depois de escrever.
Não me importa se não ensinar nada.
Aprenderás se quiseres.
Eu farei o mesmo. Se quiser.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

A diferença entre o ser e o ser.

A diferença entre o ser-se humano e o ser um animal, por exemplo uma galinha, vem do poder / não poder. Eu não posso querer ser uma galinha, porque não sou dotada do ser que é a galinha, qualidade essa que lhe é instintiva, é a sua biologia. Assim, para ser o que sou, é porque eu tenho essa possibilidade (ou essa ordem?) e, assim sendo, o livre arbítrio que sou é o instinto que o determina.
Posto isto, então o que é superior ao ser humano é a própria natureza. Ser-se pensante é ser-se natural? A forma como se foi processando a evolução das espécies, nomeadamente a espécie humana, foi então necessariamente natural.
Não se descura neste raciocínio o pensamento livre, o desenvolvimento critico, a livre tomada de decisões, mas o que se defende é que esse mesmo pensamento que é característico (apenas) do ser humano, é produto da sua biologia, e, por isso, ele não pode fugir ao que é.
Assim sendo, como pode o homem promover o Carpe Diem, a anulação do pensamento, defendendo que será essa promoção do hedonismo, o caminho para a felicidade? A defesa desse ponto de vista descura a própria condição humana, por um lado, e reafirma-a, por outro. Ou seja, defende a procura da acção e da satisfação dos sentidos, descuidando que, ao mesmo tempo, afirma que o homem está a ser crítico na procura da felicidade, ou seja, está a observar e a criticar os seus próprios actos, confirmando o Eu consciente e não só o que sente automaticamente. Logo, defende explicitamente o que não tem fundamento, e defente implicitamente o que rejeita na acção.
Porque um precisa sempre do outro, e nunca se pode anular o que somos.

Vida inha

O homem não pode ser só bom, não pode ser totalmente bom e simultaneamente desprovido de maldade. Não se dá, aqui, primazia ao facto de não conseguir, porque não tem sequer essa possibilidade. E isto acontece, porque não existe bem sem mal.
Eu só me auto-qualifico como possuidora de faculdades virtuosas se tiver consciência de que possuo paralelamente qualidades contrárias às que estarei a considerar, qualidades maldosas.
Segundo esta lógica, o herói é aquele que vence a tendência para o mal, nos escabrosos conflitos que se estabelecem, sendo esses dois pólos – o do bem e o do mal – forças que se afastam brutalmente uma da outra, e é por isso que a que é aparente é tão vincada e o indivíduo é visto como uma “personagem tipo”. Assim, quem está “de fora”, quem tem acesso apenas ao aparente dessa personagem, não consegue alcançar superficialmente o mal que lhe despoletou o potencial heróico.
É esse mal que provoca, que desperta, que acorda o lado mais sensível do homem, porque é o que se torna urgente, é isso que responde ao estímulo que se lhe dá. Esse sensível é o ser, e é, consequentemente, o que há de mais intenso, porque partiu-se do superficial – as forças menos intensas com que o homem responde aos estímulos também pouco intensos - para o mais profundo – a essência que urge em ser manifestada quando se lhe é pedida que responda.
O que acontece, então, se o homem vive toda a vida desprovido desse mesmo mal estimulante? Primeiro, o homem nunca está desprovido de mal, porque, primeiro é homem, imperfeito, crescendo partindo da tentativa ao erro, ao medo, enfim ao mal; e depois, sendo um ser pensante, o homem não pode ser um ser agnóstico e ao formar juízos de valor sobre tudo, formula imediatamente as noções de bem e mal que se tornam (implícitas?) nas suas escolhas, no seu livre arbítrio e em si mesmo. Agora, quão mau é não termos o mal suficientemente marcado na nossa vida de modo a permitir que o bem também o não esteja? Depende do que interpretemos por mal – o que é, que intensidade tem, de onde vem. Se encararmos que o mal está efectivamente pouco presente, então isso talvez signifique que a nossa vida não passa de uma inha. É uma vidinha, com uma certa intensidadezinha, onde predomina a ataraxia e a palavra-chave é o culto do ócio, ou seja, não a procura de soluções para o mal – onde se desenvolvem o amadurecimento emocional, intelectual, enfim, pessoal e humano – mas sim a procura de “passatempos” – e entenda-se aqui o mais desprezível e apático da palavra.

Arte, Compreensão, Explicação, Pensamento, Criação

Talvez que o prazer da chamada glória seja necessária ao artista e portanto à arte (…) e portanto à continuação da espécie (Ferreira, 1992), à continuação do homem crítico e pensante.
O homem gosta de si dependendo do que os outros gostam, dos juízos de valor que criam de si. Assim, se não existissem os outros, não existiria o gostar / não gostar, e, assim sendo, não existiria o gosto por si próprio. Contudo, existe uma diferença entre o outro e o sujeito que faz com que o sujeito seja único: o “gostar de mim no outro” não é profundo nem crítico como o “gostar de mim em mim”, porque o primeiro é apenas um estímulo que suscita, que “acende” o segundo, que é o potencial, o ser que se descobre. Por isso, precisamos dos outros para nos conhecermos, mas esse é um conhecimento consciencializado, pensado, não essencial.
Assim, ao criar a arte, o escritor, mesmo que não queira, criá-la-á para que os outros a vejam, para que os outros gostem ou não do que julgam, ou seja, para que o próprio autor se reavalie com base nos outros. Consequentemente, o autor sentirá vergonha de si, pois tudo o que faz vai de encontro ao que os outros são, e o Eu passa a ser o Outro. Para Vergílio Ferreira, não existe arte sem a sua publicação, mesmo que essa publicação seja apenas psicológica.
Toda a obra de arte é uma transcendência sensível ou emotiva do real. Todo o pensamento transcende o real e esse é o domínio da filosofia. Mas a emoção que sobejasse entraria logo na arte. (pag.63) Assim, a Arte é o que permite ao mundo real receber o vago. Não é sinónimo de “expressão”, porque a expressão não permite a união entre o material e o imaterial que cria uma síntese criativa, um novo novo, o conhecimento enquanto sentir e enquanto razão por parte do “receptor” que transcende o limitado.
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Análise de alguns conceitos primários/centrais em Ferreira V., Pensar

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Interpretação vs Liberdade



Se o mundo é matéria e nós o interpretamos, porque raio existe ética?
A resposta está na propriedade privada. O Homem pensa, julgando possuir as ideias, que são dadas como adquiridas - encontradas ou criadas - mas exclusivamente suas. Assim, vai impo-las aos outros, de forma arbitrária, em prol da sua dominância sobre o outro.
O homem precisa desse sentimento de superioridade. É através da superioridade que procura a tranquilidade. Mas trata-se da tranquilidade superficial, a contorno do medo, a santa ignorância que lhe dá o grande poder de não ver o que não quer. E, uma vez que deposita no outro a análise, a crítica (maioritariamente negativa) de si de forma não consciente, o Outro torna-se no espelho do seu próprio Eu, como resultado do medo de confrontar-se.

O culto da ignorância faz com que sejamos os outros toda a vida. O culto do ócio mental faz com que mecanicamente nos tornemos meros números; coisas que nascem, obedecem e morrem. Não que tenhamos poder de ir contra as leis do Universo (apesar de ser esta a sensação que o ser humano procura e finge ter, ignorando o seu próprio medo e agindo, ao mesmo tempo contra ele), mas temos o potencial suficiente para podermos ser.

Para compreender a existência humana temos de compreender primeiro o a priori - a Mente - e só depois ouvir, mas de forma crítica, o que nos rodeia.

Assim, a acção é correcta, obedece à ética, dependendo de quem a pratica.
Não existe ética nem moral sem a existência do Homem, do pensamento.

terça-feira, 31 de março de 2009

Na criação do homem.





"(...)sem adversidade o ser humano não poderia melhorar."

Nem precisaria, pois sem pecados o ser humano seria perfeito, logo não precisaria de se aperfeiçoar. Contudo, como ser Homem é ser pecador, imperfeito, inacabado, incompleto; ser Homem é ao mesmo tempo ser lutador, guerreiro contra si mesmo, contra o pecado, o mal que transporta consigo; procurando a sua origem, o bem, o que antecede o mal e o que sucede a esperança, o sucesso, o parto, o renascimento, o 5º Império. O sucesso é aquilo que vem depois da esperança, o que sucede, o que nasce (de novo).
Mas, se o homem luta contra o pecado, contra o mal e se a esperança só existe se o mal existe, então a esperança não deve acabar nunca para o sucesso não acabar nunca, apesar de nunca ter existido realmente enquanto “aquilo que sucede a esperança”.
Se assim é, então a luta, o conflito não tem fim. E este é o conhecimento, este é o nada, aquilo que não pode ser revelado, aquilo que não pode ser antecipado, aquilo que Prometeu ainda conseguiu que não escapasse quando fechou a caixa de Pandora e fechado ficou o mal que acaba com a esperança - a antecipação do conhecimento.
Então, uma vez que ao homem foi-lhe oferecido o fogo, o desejo de conhecimento, a força de lutar; o que faz ele se descobre o nada, se descobre que o conflito não acaba nunca?



O homem possui a capacidade de conhecer o luminoso partindo da sombra, e, assim, conhecendo o nada, tudo ele conhece.


segunda-feira, 23 de março de 2009

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Alívio temporário


A desorganização interna pela qual a pessoa esteja a passar é compensada por uma necessidade de organização e controlo exteriores.
Obsessão-compulsão, Ana Rita Dias

Existe uma necessidade interna que se vai manifestar no exterior, no corpo. Ao satisfazer a necessidade externa estou ilusoriamente e temporariamente a satisfazer a necessidade interna.
O facto de a satisfação interna ser ilusória significa que esta não é efectivamente satisfeita através da resposta imediata do individuo, pois a forma como a procurou satisfazer corresponde à forma como a percebeu.
O que vai acontecer é que o facto do indivíduo encarar a necessidade original de forma indirecta, colocando-lhe a máscara da necessidade exterior, e sabendo, contudo, que existe a interior que provoca a secundária, exterior, pode ocultar sempre a necessidade original sem que esta nunca seja verdadeiramente satisfeita e fazendo com que esta provoque continuamente uma série de comportamentos compulsivos que não serão resolvidos nunca enquanto o sujeito não encarar a questão, a causa do seu mal-estar de forma directa e profunda.

E porquê a importância de encarar a necessidade original? Pelo facto de que ela irá sempre existir de forma abstracta até o sujeito conseguir uma resposta satisfória; irá sempre marcar a sua presença através das necessidades exteriores como um fantasma que desassossega a mente, que lhe cria estados de ansiedade.

O individuo procura resolver o problema da periferia para o cerne da questão. contudo, como vimos, esta forma acarreta uma insatisfação e um agravamento da situação, pois a solução deve albergar a nossa posição activa, forte, determinada, resolvendo o problema partindo da causa maior, sem a contornar, sem criar teias, mas recorrendo a nós mesmos, ao Eu.

No entanto, não basta possuir consciência activa sobre a nossa inquietação, é necessária dar acção física ao exercício mental, de modo a não criar a angustia daquele a quem faltou a vontade de colocar de forma pragmática a resolução e a procura do equilíbrio.