sexta-feira, 29 de maio de 2009

Procuro o invisível e encontro coisa nenhuma

Conscientemente procuro a homeostase, procuro acreditar que é o que também o meu Eu procura, de modo a tranquilizar o meu ser.
Contudo, ao procurar conscientemente o equilíbrio, ao procurar a segurança interna com razão para essa procura, verifico que não posso ter motivo, razão para procurar o equilibrio e, ao mesmo tempo, o objectivo final do equilíbrio, do sossego, da não inquietação do espírito, da irracionalidade enquanto uma não-procura do porquê dos fenómenos.
Assim, verifico que o que realmente busco - sem supostamente saber que o faço - é a heterostasia, o aumento da tensão, o caminho para o auto-conhecimento, através da estimulação dos sentidos, procurando o invisível e encontrando coisa nenhuma.
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Porque o que, afinal, procuro é a coisa em si e isso nao é conhecivel.

domingo, 24 de maio de 2009

Não me perguntes se acredito


Não me perguntes se acredito
Em tudo o que digo.
Se houver alguma contradição,
Toma por bem a tua própria razão.

Não temas por desconfiar do que
Os teus olhos tomam por bonito,
Por certo e genuíno, porque
Não deixa de estar escondido.

L i v r e, aquele que não tem
Ideias prévias de ninguém,
Que é prisioneiro da moral dos outros,
Pois a sua foi com os porcos.

sábado, 23 de maio de 2009

Aqui-ali


Gosto do Outono apenas quando me lembra
De viver o Verão.
No Outono vive o Verão sem corpo.
A realidade torna-se mito. E o mito é em vão.
Mas não gosto do Outono para viver o Outono, é pena
Ser demorado e moroso como um morto.

Gosto do Inverno apenas quando
Sinto que precipita a Primavera.
O mito torna-se realidade, antecipando
A minha espera.
Mas não gosto do Inverno para viver o Inverno,
Porque me esquece que há Primavera.

O Outono lembra.
O Inverno esquece.
A Primavera sopra.
O Verão desaparece.

Mas quem sabe o que é evocar
É porque também sabe o que é esquecer
E o que sopra promete passar
E desaparecer.