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terça-feira, 8 de junho de 2010

Útopia

Nos meus sonhos,
Onde tudo é merecido e
nada é pecado
Onde sou rainha de mim e
O belo é Fado.

Ah, quem me ensine a sonhar
De olhos fechados, sorriso nos lábios,
E a lá ficar.

Ah, quem me ajude a dizer?
Com a mente sem medos e caneta dos dedos
O sonho escrever.

Silêncio


Dá-te como novo, imperfeito e inacabado, por uns minutos, sem que tenhas outro pensamento senão esse, sem que nem outros pensamentos relacionados possam interferir.
E, agora, sem que te exija grande imaginação, sente-te simplesmente; sente aquilo que és, sê-te neste momento, vê-te, analisa-te, e relaciona-o com a primeira sensação. A que sabe, agora?

Aquando da primeira sensação, esta provém-me do hedonismo que comparo ao que sentia em criança: a maravilha que o mundo se me representa, a minha curiosidade de o conhecer e a minha sensação de que terei muito tempo para o conhecer, para o conhecer no seu todo, sem consciência da impotência que possuo perante tal. Posto isto, a fantasia da possibilidade levanta um paradoxo: a presença da motivação aliada à ausência da preocupação.
Não quero com isto dizer que a preocupação será um factor predicador da motivação. O que insinuo e pretendo salientar é que a relação entre estas duas variáveis torna-se muitas vezes necessária aos olhos dos adultos menos apaixonados.

domingo, 5 de julho de 2009

O dia tem tem mil sóis


O que faz nascer o dia diz-me que vou ser a rainha do mundo.
O que avisa que se vai esconder paralisa-me. Porque é o mais belo de todos, o que menos tempo dura e o que mais atenção lhe consinto. São cinco minutos que lhe dispenso, vinte, trinta e já era. É o único que muda a cor do vestido a cada cinco minutos e nenhum é mais belo que outro; todos lhe assentam de forma singular. É uma pintura que só cabe na tela que o campo da visão alberga e que volta a ser pintada todos os dias, mais ou menos à mesma hora, porque a memória não a consegue guardar sem lhe ser infiel à beleza.
E só eu o consigo ver, porque não está ao alcance de mais nenhuma janela senão da minha.

domingo, 28 de junho de 2009

Tampouco tempo

Tenho tão pouco tempo!
O que estou eu a fazer aqui sentada
Em vez de correr lá para fora e procurar
Viver tudo intensamente. Fico parada,
Por mim, deixo a vida passar.

Tenho tão pouco tempo…
De que me serve pensar no futuro ansiogénico,
Se, pensando permito que ele não chegue nunca,
Chegando. A toda a hora, efémero.
Vá, não faças obséquio, não demores em passar. Finda.

Tampouco…
Em que é que o introvertido pode ser mais feliz que o extrovertido?
Se o extrovertido é, antes, introvertido, é afortunado.
Mas que fortuna tem o fado
Do apenas introvertido?

Tem tempo de ser introvertido quando morrer, ora.

domingo, 14 de junho de 2009

Bandido:
— Será pior que o meu desespero?
Pandilhas:
— Não é com certeza. Porque o teu não o sinto eu.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Sinestesia a posteriori

S e n t i r soa a um SSSS mudo e a um iiii grave e baixinho. Sentir depois de sentir sabe a arrepio de olhos fechados, daqueles mesmo só de olhos fechados.


Cheira-se, toca-se, vê-se, ouve-se talvez - tudo ao mesmo tempo.


Não tem tempo, porque não se conta; e se tivesse espaço, eu estaria sempre.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Quando eu sonho, tu sonhas comigo


Quando eu sonho, tu sonhas comigo. Quando eu amo, tu amas comigo. Quando tu amas, ensinas-me a amar. Eu sonho, tu realizas. Quando eu sinto, comunicamos os dois, mudos e calados, como as duas mãos côncavas – mas diferentes - que me mostraste. O quando de que falo é o presente que se tem, mas que se não mais repete.
Admiras-me da mesma forma que me vou admirando ao passo que me vou conhecendo. Contudo, antes de me criar, já tu me admiravas desse lado, de dentro da janela; antes de eu me conhecer já tu me conhecias.
E de ti, o que te conheço é o que descubro que em mim é possível de sentir.

sábado, 6 de junho de 2009

Não me toques


Fecho os olhos e fico um bocadinho para me assegurar que ainda estás aí.
-Estou.
Que coisa, que bem que sabe trazer-te.

Não me toques.
"É sempre mais fácil um homem perdoar àquele que o iludiu do que àquele que lhe desfez a ilusão."O belo que se tem começa a apagar-se nesse tê-lo" VFerreira
O teu nós és tu e o meu nós sou eu. O que é além de nós não existe, muito menos o que está entre nós.

sábado, 23 de maio de 2009

Aqui-ali


Gosto do Outono apenas quando me lembra
De viver o Verão.
No Outono vive o Verão sem corpo.
A realidade torna-se mito. E o mito é em vão.
Mas não gosto do Outono para viver o Outono, é pena
Ser demorado e moroso como um morto.

Gosto do Inverno apenas quando
Sinto que precipita a Primavera.
O mito torna-se realidade, antecipando
A minha espera.
Mas não gosto do Inverno para viver o Inverno,
Porque me esquece que há Primavera.

O Outono lembra.
O Inverno esquece.
A Primavera sopra.
O Verão desaparece.

Mas quem sabe o que é evocar
É porque também sabe o que é esquecer
E o que sopra promete passar
E desaparecer.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Mais fazia Nabucodonosor dormindo, que acordado



Faço mais a dormir que acordada.

Acordada governo quimericamente o corpo rotineiro que me domina.
A dormir, governo o liberal do meu espírito que também me domina, mas que, pelo contrário, não me importo.


sábado, 25 de abril de 2009

De passagem




Este vento, que entra de fininho a deslizar-se-me na pele, pelo fundo das costas, e sai, arranhando suavemente o pescoço, toca e provoca sem se deixar apanhar.
Sem som, sem cheiro, sem corpo, vai-se embora, despede-se na camisa e deixa-me novamente sozinha, tonta, à espera da próxima vez que a brisa se pavoneie nas minhas costas.