sábado, 19 de dezembro de 2009

Olha, passou!

É tudo tão temporário e não tinha eu dado por nada. Pensando que tinha, nunca tive coisa nenhuma. O poder sobre mim própria é tão relativo e ameaçador. Sinto que não tenho vontade sobre a própria vontade. E que vontade é essa que só se lembra de mim quando o rei faz anos? Razão tem ela, que eu tenho o agir de uma beata: só me lembro dela quando preciso. E são poucas as vezes quando o rei faz anos.

Quando passa o agora e volta, depois, o que passou?

agora sim, agora não,
por quantas vezes ja passou por mim o vento
tempo sim, tempo não
a vida é-me um passatempo.


(Quando falo em vontade sobre a própria vontade, refiro-me à vontade que sempre existe em mim, à vontade de sonhos, de algo demasiado grandioso, imaterial e permanente. Mas, a vontade que se sobrepõe a esta, é uma vontade material, preguiçosa, que me faz sentir vergonha e culpa, porque depende da conduta observavel, de modo a concretizar o não observavel.)



quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Eu e eu ou Eu e o outro?


Querer pouco é de gente medíocre.

Querer muito é de gente estúpida.
Dizem.

Querer mais que muito é de quem?
"Ser melhor" discute-se-me com "Ser a melhor" e eu tenho necessidade de dar caminho livre para ambas avançarem.


Before I die I want to change the world.

Foi este o pensamento que se me surgiu por volta dos meus 10(?)anos e que, embora antes não tivesse dificuldades em tê-lo sempre presente comigo, hoje foi o primeiro dia em que senti insegurança a esse respeito e tive mesmo de arranjar uma corda para o prender a mim.
Segundo a teoria desenvolvimentista, é na fase adolescente que a criança sente que pode fazer a diferença e mudar o mundo. Contudo, refere-se a esse sentimento como uma mera caracteristica específica (!) dessa fase, ou seja, ocorrerá quase que necessáriamente uma crise para uma posterior e permanente noção menos fantasiosa do mundo real. Por outras palavras, a transição para a fase adulta requer, embora que gradual e supostamente nao abrupto, um descuramento do que somos enquanto realização pessoal e inocente, devido ao bem-estar molar do que nos rodeia, para passar uma realização pessoal, que se preocupa com o bem-estar molecular, do indivíduo apenas, que curiosamente considera apenas os interesses de soberania egoista.
Ora, o curioso da questão é que, por um lado, se observa um regresso ao egoísmo (que existia anteriormente nas fases sensorio motora e preformal piagetianas), embora este tipo de egoismo tenha um teor de ambição maior e seja distinto do primeiro; e, por outro lado, esse egoismo interage com o auge da capacidade de abstracção que se verifica na fase adulta, a fase formal.

Nota: Devemos, contudo, ter em conta que possuir grande capacidade para, neste caso a abstracção, nao significa que se conquiste esse auge. Assim sendo, um adolescente ou até mesmo uma criança mais nova podem apresentar maior descentraçao ou tomada de perspectiva cognitiva referente a uma pessoa, contexto ou situação específica, comparado com um adulto cognitivamente mais capacitado.