domingo, 23 de maio de 2010

Só não desilude aquele de quem nada se espera

Quem pensa que é preciso fazer alguma coisa para que se tenha consequências?

Nem as consequências não esperam pelos comportamentos nem os comportamentos são necessariamente uma reacção activa aos estímulos nem os estímulos são conscientes.

Ou seja, mesmo quando parecem que não existem (estímulos, comportamentos e/ou consequências), eles existem.

Tudo começa a partir do momento em que te perguntam ou em que te perguntas “Quem és?”. E a partir desse momento, o teu comportamento vai em direcção às expectativas que crias de ti mesmo e que achas que criam de ti. Se o teu comportamento for no sentido contrário, ele não deixa de não ter consequências, porque o contrário de corresponder às expectativas é corresponder à desilusão.

terça-feira, 11 de maio de 2010

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Vive-te

Se o que temes é a morte, faz-te de morto para viveres a aproveitares a vida e não precisares de te preocupar em morrer.
Mas se o que temes é a vida, então faz-te de vivo, porque morto já tu tens andado.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

O tempo não é sinesteticamente mensurável

A luz violenta que anuncia o dia desperta-me, afinal, suavemente. O dia ressuscita pela ésima vez. Mas onde procuro aconchego é nos pedacinhos de noite que restam na minha cama.
Enlaço-me nos lençóis, cubro a cara e volto a dormir...

Blá

Ser mini-meu é ser menos do que eu.
Amanha serei maxi-meu.
Mas só amanhã, que hoje tenho preguiça.

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Se ser Deus é ser omnipresente e omnipotente do seu mundo,
Então eu sou Deus de mim.
Eu tomo omniprepotentemente conta de mim.

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"O nosso prazer é o prazer dos outros." (A sério, o hedonismo é mesmo altruísta?!)
Daí o porquê de não sermos felizes sozinhos.
Isso não quer, no entanto, dizer que sejamos altruístas,
Pois o prazer será, em ultima análise, desfrutado por nós.
Podemos chamar-lhe um altruísmo-biologicamente-egoísta.

Escritos a adormecer


Vistas por outrem não passam de meras imagens sem cor, as nossas lomografias. Mas cor não lhes falta: estão bem vivas e rosadinhas as representações mentais que fazemos com o auxílio dessas imagens em papel. É onde diligencio e procuro mas não encontro, conseguindo, contudo, brevemente lá ficar.
É atroz a ansiedade que nos consome quando, parando no tempo, este continua (talvez ainda mais depressa) e nos deixa impotentes. É esse o papel do pensamento: conferir um vazio insanável, porque aquele pedaço de tempo já era...
Entretanto fico inchado de angústia e deixo cobardemente que esta me corroa.
Burguesinho

sábado, 19 de dezembro de 2009

Olha, passou!

É tudo tão temporário e não tinha eu dado por nada. Pensando que tinha, nunca tive coisa nenhuma. O poder sobre mim própria é tão relativo e ameaçador. Sinto que não tenho vontade sobre a própria vontade. E que vontade é essa que só se lembra de mim quando o rei faz anos? Razão tem ela, que eu tenho o agir de uma beata: só me lembro dela quando preciso. E são poucas as vezes quando o rei faz anos.

Quando passa o agora e volta, depois, o que passou?

agora sim, agora não,
por quantas vezes ja passou por mim o vento
tempo sim, tempo não
a vida é-me um passatempo.


(Quando falo em vontade sobre a própria vontade, refiro-me à vontade que sempre existe em mim, à vontade de sonhos, de algo demasiado grandioso, imaterial e permanente. Mas, a vontade que se sobrepõe a esta, é uma vontade material, preguiçosa, que me faz sentir vergonha e culpa, porque depende da conduta observavel, de modo a concretizar o não observavel.)



quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Eu e eu ou Eu e o outro?


Querer pouco é de gente medíocre.

Querer muito é de gente estúpida.
Dizem.

Querer mais que muito é de quem?
"Ser melhor" discute-se-me com "Ser a melhor" e eu tenho necessidade de dar caminho livre para ambas avançarem.


Before I die I want to change the world.

Foi este o pensamento que se me surgiu por volta dos meus 10(?)anos e que, embora antes não tivesse dificuldades em tê-lo sempre presente comigo, hoje foi o primeiro dia em que senti insegurança a esse respeito e tive mesmo de arranjar uma corda para o prender a mim.
Segundo a teoria desenvolvimentista, é na fase adolescente que a criança sente que pode fazer a diferença e mudar o mundo. Contudo, refere-se a esse sentimento como uma mera caracteristica específica (!) dessa fase, ou seja, ocorrerá quase que necessáriamente uma crise para uma posterior e permanente noção menos fantasiosa do mundo real. Por outras palavras, a transição para a fase adulta requer, embora que gradual e supostamente nao abrupto, um descuramento do que somos enquanto realização pessoal e inocente, devido ao bem-estar molar do que nos rodeia, para passar uma realização pessoal, que se preocupa com o bem-estar molecular, do indivíduo apenas, que curiosamente considera apenas os interesses de soberania egoista.
Ora, o curioso da questão é que, por um lado, se observa um regresso ao egoísmo (que existia anteriormente nas fases sensorio motora e preformal piagetianas), embora este tipo de egoismo tenha um teor de ambição maior e seja distinto do primeiro; e, por outro lado, esse egoismo interage com o auge da capacidade de abstracção que se verifica na fase adulta, a fase formal.

Nota: Devemos, contudo, ter em conta que possuir grande capacidade para, neste caso a abstracção, nao significa que se conquiste esse auge. Assim sendo, um adolescente ou até mesmo uma criança mais nova podem apresentar maior descentraçao ou tomada de perspectiva cognitiva referente a uma pessoa, contexto ou situação específica, comparado com um adulto cognitivamente mais capacitado.

sábado, 3 de outubro de 2009

Kohlberg, 1980

“Virtudes não há muitas.
Uma apenas:
a justiça”

“Virtude é uma.
É o conhecimento do bem.
Quem conhece o bem, escolhe o bem.”

“Alcançar a virtude
é pôr questões,
não dar respostas.”

Moral não é sinónimo de Normativo

“A educação moral
não é encher a pessoa
de conhecimentos que não tinha,
mas promover-lhe o raciocínio moral”

Kohlberg, 1980, p.26


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Eu não sou o livro que leio, sou o que penso sobre ele.
Ter não é ser, já dizia Erich Fromm.
Não temas se me derem a conhecer o mal, porque o mal sou eu que o construo.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Os Outros sou Eu

Os outros sou Eu.
Quando penso que estou a ser influenciada pelos juízos alheios estou antes a ser influenciada pela critica que o meu Eu faz do que vai conhecendo, do que me vou mostrando a mim mesma, porque é esse Eu o verdadeiro observador, o que é omnipresente e, curiosamente, omnisciente - e, por isso, julga quem me mostro ser, os meus pensamentos e comportamentos, mesmo quando me não encontro com ninguém.
Não, a educação não faz de mim quem sou.

O que não existe existe em nós

O Amor é a verdade que desaparece quando a verdade aparece.

domingo, 5 de julho de 2009

O dia tem tem mil sóis


O que faz nascer o dia diz-me que vou ser a rainha do mundo.
O que avisa que se vai esconder paralisa-me. Porque é o mais belo de todos, o que menos tempo dura e o que mais atenção lhe consinto. São cinco minutos que lhe dispenso, vinte, trinta e já era. É o único que muda a cor do vestido a cada cinco minutos e nenhum é mais belo que outro; todos lhe assentam de forma singular. É uma pintura que só cabe na tela que o campo da visão alberga e que volta a ser pintada todos os dias, mais ou menos à mesma hora, porque a memória não a consegue guardar sem lhe ser infiel à beleza.
E só eu o consigo ver, porque não está ao alcance de mais nenhuma janela senão da minha.

domingo, 28 de junho de 2009

Tampouco tempo

Tenho tão pouco tempo!
O que estou eu a fazer aqui sentada
Em vez de correr lá para fora e procurar
Viver tudo intensamente. Fico parada,
Por mim, deixo a vida passar.

Tenho tão pouco tempo…
De que me serve pensar no futuro ansiogénico,
Se, pensando permito que ele não chegue nunca,
Chegando. A toda a hora, efémero.
Vá, não faças obséquio, não demores em passar. Finda.

Tampouco…
Em que é que o introvertido pode ser mais feliz que o extrovertido?
Se o extrovertido é, antes, introvertido, é afortunado.
Mas que fortuna tem o fado
Do apenas introvertido?

Tem tempo de ser introvertido quando morrer, ora.

Cala-me

Se disser coisas bonitas e ficar feia
É porque penso indecente.
A língua mente.
E o nariz é de madeira.

Quando eu contrario, não vás
Por onde eu verbalizo.
Atrás do que fantasio,
Vê o que escondo, que se não fica atrás – é isso que é bonito.

Só vejo a cor da minha caneta depois de escrever.
Não me importa se não ensinar nada.
Aprenderás se quiseres.
Eu farei o mesmo. Se quiser.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

A diferença entre o ser e o ser.

A diferença entre o ser-se humano e o ser um animal, por exemplo uma galinha, vem do poder / não poder. Eu não posso querer ser uma galinha, porque não sou dotada do ser que é a galinha, qualidade essa que lhe é instintiva, é a sua biologia. Assim, para ser o que sou, é porque eu tenho essa possibilidade (ou essa ordem?) e, assim sendo, o livre arbítrio que sou é o instinto que o determina.
Posto isto, então o que é superior ao ser humano é a própria natureza. Ser-se pensante é ser-se natural? A forma como se foi processando a evolução das espécies, nomeadamente a espécie humana, foi então necessariamente natural.
Não se descura neste raciocínio o pensamento livre, o desenvolvimento critico, a livre tomada de decisões, mas o que se defende é que esse mesmo pensamento que é característico (apenas) do ser humano, é produto da sua biologia, e, por isso, ele não pode fugir ao que é.
Assim sendo, como pode o homem promover o Carpe Diem, a anulação do pensamento, defendendo que será essa promoção do hedonismo, o caminho para a felicidade? A defesa desse ponto de vista descura a própria condição humana, por um lado, e reafirma-a, por outro. Ou seja, defende a procura da acção e da satisfação dos sentidos, descuidando que, ao mesmo tempo, afirma que o homem está a ser crítico na procura da felicidade, ou seja, está a observar e a criticar os seus próprios actos, confirmando o Eu consciente e não só o que sente automaticamente. Logo, defende explicitamente o que não tem fundamento, e defente implicitamente o que rejeita na acção.
Porque um precisa sempre do outro, e nunca se pode anular o que somos.

Nefelibata

Não demores, que é exasperante
Se é para te ter às postas, que te não tenha de todo.
Vem ou vai-te e eu não me afligirei mais.
Mas não venhas nem vás, porque atroz é o hedonismo que se fica
Apenas pela aparência.





Vida inha

O homem não pode ser só bom, não pode ser totalmente bom e simultaneamente desprovido de maldade. Não se dá, aqui, primazia ao facto de não conseguir, porque não tem sequer essa possibilidade. E isto acontece, porque não existe bem sem mal.
Eu só me auto-qualifico como possuidora de faculdades virtuosas se tiver consciência de que possuo paralelamente qualidades contrárias às que estarei a considerar, qualidades maldosas.
Segundo esta lógica, o herói é aquele que vence a tendência para o mal, nos escabrosos conflitos que se estabelecem, sendo esses dois pólos – o do bem e o do mal – forças que se afastam brutalmente uma da outra, e é por isso que a que é aparente é tão vincada e o indivíduo é visto como uma “personagem tipo”. Assim, quem está “de fora”, quem tem acesso apenas ao aparente dessa personagem, não consegue alcançar superficialmente o mal que lhe despoletou o potencial heróico.
É esse mal que provoca, que desperta, que acorda o lado mais sensível do homem, porque é o que se torna urgente, é isso que responde ao estímulo que se lhe dá. Esse sensível é o ser, e é, consequentemente, o que há de mais intenso, porque partiu-se do superficial – as forças menos intensas com que o homem responde aos estímulos também pouco intensos - para o mais profundo – a essência que urge em ser manifestada quando se lhe é pedida que responda.
O que acontece, então, se o homem vive toda a vida desprovido desse mesmo mal estimulante? Primeiro, o homem nunca está desprovido de mal, porque, primeiro é homem, imperfeito, crescendo partindo da tentativa ao erro, ao medo, enfim ao mal; e depois, sendo um ser pensante, o homem não pode ser um ser agnóstico e ao formar juízos de valor sobre tudo, formula imediatamente as noções de bem e mal que se tornam (implícitas?) nas suas escolhas, no seu livre arbítrio e em si mesmo. Agora, quão mau é não termos o mal suficientemente marcado na nossa vida de modo a permitir que o bem também o não esteja? Depende do que interpretemos por mal – o que é, que intensidade tem, de onde vem. Se encararmos que o mal está efectivamente pouco presente, então isso talvez signifique que a nossa vida não passa de uma inha. É uma vidinha, com uma certa intensidadezinha, onde predomina a ataraxia e a palavra-chave é o culto do ócio, ou seja, não a procura de soluções para o mal – onde se desenvolvem o amadurecimento emocional, intelectual, enfim, pessoal e humano – mas sim a procura de “passatempos” – e entenda-se aqui o mais desprezível e apático da palavra.

Arte, Compreensão, Explicação, Pensamento, Criação

Talvez que o prazer da chamada glória seja necessária ao artista e portanto à arte (…) e portanto à continuação da espécie (Ferreira, 1992), à continuação do homem crítico e pensante.
O homem gosta de si dependendo do que os outros gostam, dos juízos de valor que criam de si. Assim, se não existissem os outros, não existiria o gostar / não gostar, e, assim sendo, não existiria o gosto por si próprio. Contudo, existe uma diferença entre o outro e o sujeito que faz com que o sujeito seja único: o “gostar de mim no outro” não é profundo nem crítico como o “gostar de mim em mim”, porque o primeiro é apenas um estímulo que suscita, que “acende” o segundo, que é o potencial, o ser que se descobre. Por isso, precisamos dos outros para nos conhecermos, mas esse é um conhecimento consciencializado, pensado, não essencial.
Assim, ao criar a arte, o escritor, mesmo que não queira, criá-la-á para que os outros a vejam, para que os outros gostem ou não do que julgam, ou seja, para que o próprio autor se reavalie com base nos outros. Consequentemente, o autor sentirá vergonha de si, pois tudo o que faz vai de encontro ao que os outros são, e o Eu passa a ser o Outro. Para Vergílio Ferreira, não existe arte sem a sua publicação, mesmo que essa publicação seja apenas psicológica.
Toda a obra de arte é uma transcendência sensível ou emotiva do real. Todo o pensamento transcende o real e esse é o domínio da filosofia. Mas a emoção que sobejasse entraria logo na arte. (pag.63) Assim, a Arte é o que permite ao mundo real receber o vago. Não é sinónimo de “expressão”, porque a expressão não permite a união entre o material e o imaterial que cria uma síntese criativa, um novo novo, o conhecimento enquanto sentir e enquanto razão por parte do “receptor” que transcende o limitado.
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Análise de alguns conceitos primários/centrais em Ferreira V., Pensar