quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Justice

There's a land, wich I suppose,
Where everybody has a crooked nose;

And the crooked nose that everyone had
In no manner did make him sad.

But in that land a man was born
Whose nose more straight and clean was worn;

And the men of that land with a public hate
Killed the man whose nose was straight.

Fernando Pessoa.

domingo, 10 de julho de 2011

Capitão Romance

Não vou procurar quem espero
Se o que eu quero é navegar
Pelo tamanho das ondas
Conto não voltar
Parto rumo à primavera
Que em meu fundo se escondeu
Esqueço tudo do que eu sou capaz
Hoje o mar sou eu
Esperam-me ondas que persistem
Nunca param de bater
Esperam-me homens que desistem
Antes de morrer
Por querer mais do que a vida
Sou a sombra do que eu sou
E ao fim não toquei em nada
Do que em mim tocou

Eu vi
Mas não agarrei

Parto rumo à maravilha
Rumo à dor que houver pra vir
Se eu encontrar uma ilha
Paro pra sentir
E dar sentido à viagem
Pra sentir que eu sou capaz
Se o meu peito diz coragem
Volto a partir em paz

Eu vi
Mas não agarrei

Ornatos Violeta

domingo, 26 de junho de 2011

Vergílio Ferreira

"A crença seja no que for é um resíduo de tudo o que falhou."

"O amor afirma, o ódio nega. Mas por cada afirmação há milhentas de negação. Assim o amor é pequeno em face do que se odeia. Vê se consegues que isso seja mentira. E terás chegado à verdade."

"Há os livros que antes de lidos já estão lidos. Há os que se lêem todos e ficam logo lidos todos. E há os que nos regateiam a leitura e que pedimos humildemente que se deixem ler todos e não deixam e vão largando uma parte de si pelas gerações e jamais se deixam ler de uma vez para sempre."

"Todo o escritor que é original é diferente. Mas nem todo o que é diferente é original. A originalidade vem de dentro para fora. A diferença é ao contrário. A diferença vê-se, a originalidade sente-se. Assim, uma é fácil e a outra é difícil."

"A melhor forma de não ouvires o que ouves e te incomoda é não o ouvires."

terça-feira, 8 de junho de 2010

Útopia

Nos meus sonhos,
Onde tudo é merecido e
nada é pecado
Onde sou rainha de mim e
O belo é Fado.

Ah, quem me ensine a sonhar
De olhos fechados, sorriso nos lábios,
E a lá ficar.

Ah, quem me ajude a dizer?
Com a mente sem medos e caneta dos dedos
O sonho escrever.

Silêncio


Dá-te como novo, imperfeito e inacabado, por uns minutos, sem que tenhas outro pensamento senão esse, sem que nem outros pensamentos relacionados possam interferir.
E, agora, sem que te exija grande imaginação, sente-te simplesmente; sente aquilo que és, sê-te neste momento, vê-te, analisa-te, e relaciona-o com a primeira sensação. A que sabe, agora?

Aquando da primeira sensação, esta provém-me do hedonismo que comparo ao que sentia em criança: a maravilha que o mundo se me representa, a minha curiosidade de o conhecer e a minha sensação de que terei muito tempo para o conhecer, para o conhecer no seu todo, sem consciência da impotência que possuo perante tal. Posto isto, a fantasia da possibilidade levanta um paradoxo: a presença da motivação aliada à ausência da preocupação.
Não quero com isto dizer que a preocupação será um factor predicador da motivação. O que insinuo e pretendo salientar é que a relação entre estas duas variáveis torna-se muitas vezes necessária aos olhos dos adultos menos apaixonados.

Consegues ler-me sem que diga uma palavra?

Esfrego a cara, estalo o pescoço, acendo um cigarro.
Consegues sentir a ansiedade? Consegues ler-me sem que diga uma palavra?
O óbvio torna-se não óbvio aos olhos dos outros.
E eu, ou tu, ou qualquer pessoa que viva em sociedade, torna-se invisível.
E cada um dá a cor que quer a cada um - sem perceber que o outro é, afinal, (tal como ele) transparente.
A consequência? Chama-se privacidade ou isolamento... Ou os ambos simultaneamente, permitindo fazer da carapaça que os outros nos constroem a nossa casa. E, assim, essa mesma carapaça é construída em conjunto, com as influências do mundo exterior e do interior.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Metodo clínico com caneta.

Piaget dizia que só pensava com uma caneta na mão (relativamente às entrevistas do método clínico experimental).
Porquê?
Talvez porque se não a apontarmos, a realidade passa-nos sem que a recebamos sequer. Não falo da realidade que olhamos, mas da que vemos.
Só depois de ver a realidade escrita é que lhe dá palavra - é uma máxima registada à qual procuramos dar explicações; é o pormenor que não escapou e que permite relacionar com mil e mais alguns conhecimentos, permitindo dar sentido ao todo que o envolve e não olhar para o vazio, mas para o material que temos (é a prova física do que se passa e já passou).
Mas a caneta não consegue efectivamente registar todas as observações, porque a resposta da criança não se resume ao que fala, mas a todo o resto de si que comunica com o experimentador. E mesmo que esse resto seja registado, não será certamente registada a sua conduta no seu todo, mas só o que se torna pregnante ao entrevistador. Fora essa pregnância, temos toda a explicação que o experimentador procura para explicar a conduta do outro.

domingo, 23 de maio de 2010

Só não desilude aquele de quem nada se espera

Quem pensa que é preciso fazer alguma coisa para que se tenha consequências?

Nem as consequências não esperam pelos comportamentos nem os comportamentos são necessariamente uma reacção activa aos estímulos nem os estímulos são conscientes.

Ou seja, mesmo quando parecem que não existem (estímulos, comportamentos e/ou consequências), eles existem.

Tudo começa a partir do momento em que te perguntam ou em que te perguntas “Quem és?”. E a partir desse momento, o teu comportamento vai em direcção às expectativas que crias de ti mesmo e que achas que criam de ti. Se o teu comportamento for no sentido contrário, ele não deixa de não ter consequências, porque o contrário de corresponder às expectativas é corresponder à desilusão.

terça-feira, 11 de maio de 2010

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Vive-te

Se o que temes é a morte, faz-te de morto para viveres a aproveitares a vida e não precisares de te preocupar em morrer.
Mas se o que temes é a vida, então faz-te de vivo, porque morto já tu tens andado.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

O tempo não é sinesteticamente mensurável

A luz violenta que anuncia o dia desperta-me, afinal, suavemente. O dia ressuscita pela ésima vez. Mas onde procuro aconchego é nos pedacinhos de noite que restam na minha cama.
Enlaço-me nos lençóis, cubro a cara e volto a dormir...

Blá

Ser mini-meu é ser menos do que eu.
Amanha serei maxi-meu.
Mas só amanhã, que hoje tenho preguiça.

~~~

Se ser Deus é ser omnipresente e omnipotente do seu mundo,
Então eu sou Deus de mim.
Eu tomo omniprepotentemente conta de mim.

~~~

"O nosso prazer é o prazer dos outros." (A sério, o hedonismo é mesmo altruísta?!)
Daí o porquê de não sermos felizes sozinhos.
Isso não quer, no entanto, dizer que sejamos altruístas,
Pois o prazer será, em ultima análise, desfrutado por nós.
Podemos chamar-lhe um altruísmo-biologicamente-egoísta.

Escritos a adormecer


Vistas por outrem não passam de meras imagens sem cor, as nossas lomografias. Mas cor não lhes falta: estão bem vivas e rosadinhas as representações mentais que fazemos com o auxílio dessas imagens em papel. É onde diligencio e procuro mas não encontro, conseguindo, contudo, brevemente lá ficar.
É atroz a ansiedade que nos consome quando, parando no tempo, este continua (talvez ainda mais depressa) e nos deixa impotentes. É esse o papel do pensamento: conferir um vazio insanável, porque aquele pedaço de tempo já era...
Entretanto fico inchado de angústia e deixo cobardemente que esta me corroa.
Burguesinho

sábado, 19 de dezembro de 2009

Olha, passou!

É tudo tão temporário e não tinha eu dado por nada. Pensando que tinha, nunca tive coisa nenhuma. O poder sobre mim própria é tão relativo e ameaçador. Sinto que não tenho vontade sobre a própria vontade. E que vontade é essa que só se lembra de mim quando o rei faz anos? Razão tem ela, que eu tenho o agir de uma beata: só me lembro dela quando preciso. E são poucas as vezes quando o rei faz anos.

Quando passa o agora e volta, depois, o que passou?

agora sim, agora não,
por quantas vezes ja passou por mim o vento
tempo sim, tempo não
a vida é-me um passatempo.


(Quando falo em vontade sobre a própria vontade, refiro-me à vontade que sempre existe em mim, à vontade de sonhos, de algo demasiado grandioso, imaterial e permanente. Mas, a vontade que se sobrepõe a esta, é uma vontade material, preguiçosa, que me faz sentir vergonha e culpa, porque depende da conduta observavel, de modo a concretizar o não observavel.)



quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Eu e eu ou Eu e o outro?


Querer pouco é de gente medíocre.

Querer muito é de gente estúpida.
Dizem.

Querer mais que muito é de quem?
"Ser melhor" discute-se-me com "Ser a melhor" e eu tenho necessidade de dar caminho livre para ambas avançarem.


Before I die I want to change the world.

Foi este o pensamento que se me surgiu por volta dos meus 10(?)anos e que, embora antes não tivesse dificuldades em tê-lo sempre presente comigo, hoje foi o primeiro dia em que senti insegurança a esse respeito e tive mesmo de arranjar uma corda para o prender a mim.
Segundo a teoria desenvolvimentista, é na fase adolescente que a criança sente que pode fazer a diferença e mudar o mundo. Contudo, refere-se a esse sentimento como uma mera caracteristica específica (!) dessa fase, ou seja, ocorrerá quase que necessáriamente uma crise para uma posterior e permanente noção menos fantasiosa do mundo real. Por outras palavras, a transição para a fase adulta requer, embora que gradual e supostamente nao abrupto, um descuramento do que somos enquanto realização pessoal e inocente, devido ao bem-estar molar do que nos rodeia, para passar uma realização pessoal, que se preocupa com o bem-estar molecular, do indivíduo apenas, que curiosamente considera apenas os interesses de soberania egoista.
Ora, o curioso da questão é que, por um lado, se observa um regresso ao egoísmo (que existia anteriormente nas fases sensorio motora e preformal piagetianas), embora este tipo de egoismo tenha um teor de ambição maior e seja distinto do primeiro; e, por outro lado, esse egoismo interage com o auge da capacidade de abstracção que se verifica na fase adulta, a fase formal.

Nota: Devemos, contudo, ter em conta que possuir grande capacidade para, neste caso a abstracção, nao significa que se conquiste esse auge. Assim sendo, um adolescente ou até mesmo uma criança mais nova podem apresentar maior descentraçao ou tomada de perspectiva cognitiva referente a uma pessoa, contexto ou situação específica, comparado com um adulto cognitivamente mais capacitado.

sábado, 3 de outubro de 2009

Kohlberg, 1980

“Virtudes não há muitas.
Uma apenas:
a justiça”

“Virtude é uma.
É o conhecimento do bem.
Quem conhece o bem, escolhe o bem.”

“Alcançar a virtude
é pôr questões,
não dar respostas.”

Moral não é sinónimo de Normativo

“A educação moral
não é encher a pessoa
de conhecimentos que não tinha,
mas promover-lhe o raciocínio moral”

Kohlberg, 1980, p.26


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Eu não sou o livro que leio, sou o que penso sobre ele.
Ter não é ser, já dizia Erich Fromm.
Não temas se me derem a conhecer o mal, porque o mal sou eu que o construo.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Os Outros sou Eu

Os outros sou Eu.
Quando penso que estou a ser influenciada pelos juízos alheios estou antes a ser influenciada pela critica que o meu Eu faz do que vai conhecendo, do que me vou mostrando a mim mesma, porque é esse Eu o verdadeiro observador, o que é omnipresente e, curiosamente, omnisciente - e, por isso, julga quem me mostro ser, os meus pensamentos e comportamentos, mesmo quando me não encontro com ninguém.
Não, a educação não faz de mim quem sou.

O que não existe existe em nós

O Amor é a verdade que desaparece quando a verdade aparece.