segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Entre nós há uma janela. Eu estou do lado de dentro


Não é este o conceito dos pessimistas, como aquele de Vigny, para quem a vida é uma cadeia, onde ele tecia palha para se distrair. Ser pessimista é tomar qualquer coisa como trágico, e essa atitude é um exagero e um incómodo. Não temos, é certo, um conceito de valia que apliquemos à obra que produzimos. Produzimo-la, é certo, para nos distrair, porém não como o preso que tece a palha, para se distrair do Destino, senão da menina que borda almofadas, para se distrair, sem mais nada.
Pessoa



Amo o optimista, aprecio-lhe todos os passos que dá na vida, o que dela faz, aquilo que em si próprio cria. O optimista é o criador exemplar que deve ser contemplado por todos os que perdem tempo em pensar. Ele, mesmo conhecendo, mesmo vendo, sabe viver simplesmente.
O que resta ao pessimista senão a contemplação do destino de forma morosa? A única coisa que tem é o potencial para renegar a admiração pela acção, o facto de a querer viver. Mas também o próprio potencial tem moleza.
O contemplador é aquele que contempla tudo "na sua íntima substância". Em vigília, p e r d e - s e , esgota-se e volta a adormecer. Sobrevive, gozando insatisfatoriamente a passagem, até ao dia.
Amo o optimista. Não o quero interrogar nem procurar, quero vivê-lo. Quero amá-lo, mas amando-me primeiro.
Contento-me insatisfatoriamente em contemplá-lo.

Entre nós está uma janela e eu estou do lado de dentro.


Sento-me à porta e embebo meus olhos e ouvidos nas cores e nos sons da paisagem, e canto lento, para mim só, v a g o s cantos que componho enquanto espero.

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